Existem diversas formas de definir o que é concussão, mas de forma geral, trata-se de uma
injúria ao cérebro causada por um trauma mecânico que pode ser direto na cabeça ou em
outro local do corpo e transmitido para a cabeça, causando aceleração / desaceleração do
cérebro. O termo concussão frequentemente nos remete a esportes de contato, uma vez que
grande parte do interesse científico vem deste meio, porém qualquer outro tipo de
traumatismo craniano pode levar a uma concussão, como é o caso de quedas ou acidentes
automobilísticos, portanto pode ocorrer em qualquer idade.
Para definir se houve concussão em decorrência de um trauma, é necessário que pelo menos
uma das seguintes manifestações ocorra:
– Perda de memória abrangendo menos de 24 horas de eventos antecedendo e/ou sucedendo
o trauma;
– Confusão mental e desorientação logo após o acidente;
– Perda de consciência (desmaio) durante no máximo 30 minutos;
– Déficit neurológico transitório ou permanente.
Existe grande interesse científico atual em compreender de maneira mais detalhada o que
ocorre no cérebro durante e após a concussão. Em resumo, se entende que o trauma pode
desencadear o que se chama de cascata neurometabólica, na qual ocorre liberação de
glutamato (neurotransmissor excitatório) e desregulação de íons que, somado ao menor fluxo
sanguíneo cerebral, leva a uma crise energética neste órgão. É possível que a neurotoxicidade
e o estresse oxidativo deste processo façam com que os sintomas perdurem por um tempo
mais prolongado.
As queixas cognitivas mais comuns depois de uma concussão são: dificuldade para se
concentrar, esquecer rapidamente das coisas, se sentir mais lento(a), desanimado(a) e
irritado(a). Cerca de 40% das pessoas que sofrem concussão ainda apresentarão estes
sintomas mesmo 4 meses após o trauma, e cerca de 25%, após 1 ano. Sabe-se que o risco de
manutenção dos sintomas aumenta com alguns fatores individuais, como doenças
psiquiátricas e neurológicas pré-existentes, baixa escolaridade, uso de substâncias ilícitas e
álcool (que é neurotóxico). Um ponto muito importante, principalmente no meio esportivo, é
que uma segunda concussão em um intervalo curto de tempo pode piorar muito o
prognóstico, visto que o cérebro ainda está em recuperação de um processo inflamatório e de
“crise energética”, ou seja, precisa das melhores condições para lidar com as agressões
sofridas.
A avaliação inicial de um traumatismo cranioencefálico deve ser precoce, principalmente
quando há sinais de alarme, como perda de consciência, confusão mental e convulsões, mas
também quando o impacto foi de grande energia. Constatando-se que não há complicações
agudas que mereçam intervenções urgentes, esse indivíduo deve receber acompanhamento
ambulatorial para identificar precocemente possíveis sintomas pós-concussionais. Nesse
momento, uma avaliação neuropsicológica pode ser de grande valia, uma vez que é capaz de
identificar de maneira bastante detalhada dificuldades em diferentes tipos de funções
cognitivas e, com base nisto, planejar uma abordagem terapêutica em conjunto com o médico.
A avaliação médica e neuropsicológica após uma concussão também requer atenção a
sintomas ansiosos e depressivos, uma vez que estes podem se acentuar devido à disfunção
neurológica e à própria reação da pessoa ao evento. Neste sentido os sintomas mais comuns
são:
– Irritabilidade
– Hipervigilância
– Ruminação de pensamentos
– Sensação de sobrecarga
– Tristeza
– Desesperança / pessimismo
– Perda de energia e fadiga
– Insônia
Estudos que avaliaram sintomas depressivos e ansiosos pós-concussão encontraram incidência
de cerca de 50% de transtorno depressivo maior e 70% de transtornos de ansiedade durante
o primeiro ano após o evento.
Transtornos do sono, principalmente dificuldade para iniciar e manter o sono, também são
sintomas comuns após concussões. Eles podem ocorrer como consequência direta ao trauma
ou secundária a outros transtornos relacionados à concussão, como ansiedade e
hipervigilância. Um dos principais motivos pelos quais temos que nos atentar a problemas
relacionados ao sono é a função restaurativa dele, com consequentes efeitos sobre a memória,
atenção e humor.
Além da avaliação clínica, exames de neuroimagem como tomografia e ressonância magnética
são importantes, principalmente na fase aguda do trauma, no sentido de identificar
complicações potencialmente graves e tratáveis. Adicionalmente os exames de neuroimagem
podem colaborar para definir se o prognóstico é mais ou menos favorável. É provável, ainda,
que em um futuro não muito distante, outros exames mais detalhados, ainda em estudo,
possam trazer informações importantes sobre possíveis sequelas e tempo de recuperação.
A recuperação de uma concussão costuma ser completa na grande maioria das vezes, porém a
velocidade da melhora varia com características prévias do indivíduo e também das
características do trauma e das áreas cerebrais afetadas por ele. Alguns importantes fatores
que aceleram a recuperação pós-concussão são o treino cognitivo, neuro e biofeedback,
atividade física (sem traumas) e sono adequado. Algumas vezes é necessário uso de
medicações para controle de alguns dos sintomas, apesar de não ser o mais frequente.
Não deixe de procurar ajuda especializada!
Dr. Daniel Amado
Especialista em neurologia
CRM 162391
Contato 11 91056 1453